O ambientalista e comunicador brasileiro Thiago Ávila foi enfim deportado ao Brasil nesta manhã de quinta-feira (12), após ser sequestrado por Israel, junto de 11 ativistas, do navio humanitário Madleen, parte da Flotilha da Liberdade, pelo fim do cerco a Gaza, em águas internacionais, na madrugada de segunda-feira (9).
Em custódia, Ávila se recusou a documentos de deportação e iniciou a uma greve de fome. Como represália, foi transferido à solitária, reportou nesta quarta (11) a equipe incumbida do caso, do Centro Legal Adalah.
Segundo nota da Coalizão Flotilha da Liberdade, divulgada em suas redes sociais: “Thiago está a caminho do aeroporto e deve chegar ao Brasil em breve”.
No entanto, de acordo com as informações, autoridades israelenses não permitiram que agentes consulares do Ministério de Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), bem como advogados, assem diretamente o preso político até seu embarque.
Horas após emergirem os relatos de sua libertação, a comunicação oficial confirmou a partida de Thiago ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, no Brasil. Sua chegada está prevista para sexta-feira (13), às 5h25 da madrugada.Segundo a Adalah, “após mais de 72 horas de detenção ilegal em Israel, autoridades de imigração informaram à equipe jurídica que seis voluntários foram transferidos para o Aeroporto Internacional Ben Gurion, aguardando deportação”.
Junto de Ávila, foram libertados Suayb Ordu (Turquia), Mark Rennes (Holanda), Yasmin Acar (Alemanha) e Reva Viard (França), além da eurodeputada palestino-sa Rima Hassan, também transferida à solitária sob ameaças das autoridades ocupantes.
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Pascal Maurieras e Yanis Mhamdi, ambos ses, seguem em custódia na Prisão de Givon, à espera de visita de seus advogados e então deportação.
Os voluntários foram submetidos a maus tratos, retaliação e assédio pelas autoridades do Serviço Penitenciário de Israel. Hassan — a única palestina a bordo — foi ameaçada de ter sua cabeça “esmagada na parede”.
Comandos israelenses invadiram o Madleen na segunda-feira, às 3h00 do Cairo (21h de domingo em Brasília), ao abordarem o veleiro em águas internacionais.
Em seguida, os 12 voluntários foram levados à força em custódia de Israel. O Madleen foi rebocado ao porto israelense de Ashdod. Sua carga — comida, remédios e fórmula para bebês e crianças — foi ilegalmente apreendida.
Entre os detidos, esteve a ativista sueca Greta Thunberg, deportada de Tel Aviv a Paris na terça-feira (10). Para Thunberg, contudo: “Não vamos desistir. Este definitivamente não é o fim”.
A ação israelense contra a embarcação Madleen constitui pirataria e crime de guerra, que se soma às violações em Gaza, sob cerco absoluto renovado desde março, junto de bombardeios indiscriminados contra todo o enclave.
O caso de Ávila e seus colegas é visto como crime de guerra pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do Brasil. O Itamaraty afirmou acompanhar o caso.
A chancelaria notou contato com a família, incluindo encontro com Lara Souza, esposa de Thiago, junto das deputadas federais Erika Kokay e Natália Bonavides — ambas do Partido dos Trabalhadores (PT) — e do deputado distrital Fábio Félix (PSOL).
Ativistas no Brasil, contudo, pressionam por uma postura mais proativa do governo do presidente Luíz Inácio Lula da Silva, em defesa de seu cidadão e contra as violações da lei internacional cometidas por Israel.
A conjuntura reacendeu apelos para que o governo Lula rompa relações com Israel, ao seguir os os os os de Bolívia, Colômbia, África do Sul, entre outros.
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Na semana ada, Lula se mostrou comovido ao reconhecer novamente o “genocídio premeditado” em Gaza, em evento em Paris, ao lado do presidente francês Emmanuel Macron. No entanto, não anunciou ações até então.
Neste domingo (15), o Brasil se une à Marcha Global para Gaza, com atos previstos em todo o país. Em São Paulo, a concentração ocorre na Praça Roosevelt, às 11 horas, com o mote “Basta de genocídio na Palestina! Lula, rompa com Israel, já!”.
No mesmo dia, a caravana homônima, com 50 mil pessoas, dentre as quais brasileiros, deve se aproximar do lado egípcio da fronteira de Rafah, no extremo sul de Gaza, a fim de romper o cerco ilegal imposto por Israel.
Israel mantém fechamento absoluto de Gaza há ao menos três meses, à medida que os 2.4 milhões de palestinos no enclave vivem uma catástrofe de fome segundo copiosos alertas internacionais.
O genocídio israelense — assim investigado pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), em Haia — deixou 55 mil mortos até então, sobretudo mulheres e crianças.
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