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Fome e morte: CNN confirma disparos israelenses em postos assistenciais

6 de junho de 2025, às 14h15

Parentes lamentam mortos por disparos israelenses em posto assistencial na região de al-Alam, em Rafah, no Hospital Nasser de Khan Yunis, no sul de Gaza, em 3 de junho de 2025 [Abdallah F.S. Alattar/Agência Anadolu]

Uma investigação da rede americana CNN confirmou que tropas de Israel abriram fogo contra multidões de palestinos perto de postos de distribuição assistencial no domingo (1º), no sul de Gaza, deixando dezenas de baixas.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Ao corroborar dezenas de testemunhas, a reportagem notou que soldados israelenses atiraram contra a multidão em sucessivas levas, esporadicamente.

A prática — com vítimas fatais — reincidiu ao longo da semana, em localidades geridas pelo chamado Fundo Humanitário de Gaza (GHF), iniciativa de Estados Unidos e Israel, que começou a operar no enclave em 27 de maio.

Segundo a CNN, evidências em vídeo, com geolocalização, junto de perícia sobre balas recuperadas e áudios em campo, apontam para reiterados disparos de metralhadoras israelenses, instaladas sobre tanques posicionados ao redor do local.

“Ninguém se move”, grita um homem em vídeo postado no TikTok, em meio à chacina. Alguns dos registros mostram palestinos correndo ou buscando abrigo enquanto faixas luminosas cortam o céu noturno.

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Mohammed Saqer, sobrevivente, relatou à CNN: “Vi pessoas baleadas na cabeça logo a meu lado. Me abaixei e esperei. Rezei para viver o bastante para levar comida a minha família. Sobrevivemos a uma noite que jamais poderíamos imaginar. A realidade é uma realidade de morte e fome, enquanto buscamos comida”.

O exército israelense se negou a comentar a reportagem da CNN.

Robert Maher, professor da Universidade do Estado de Montana, nos Estados Unidos, especialista em áudio forense, examinou os registros e confirmou taxas de 15 a 16 tiros por segundo — mais de 900 por minuto —, de uma distância de 450 metros.

“Dado que os choques soam irregulares, parece que os disparos foram dispersados por toda a área”, destacou Maher.

Médicos no Hospital Nasser, de Khan Yunis, compartilharam imagens de balas retiradas de vítimas — entre mortos e feridos — com a CNN. Peritos corroboraram se tratar de munição de metralhadoras israelenses.

Ao menos 102 civis palestinos foram mortos e 409 feridos enquanto aguardavam ajuda humanitária em centros designados por Israel em Gaza, no período de oito dias.

Desde 2 de março, Israel mantém todas as travessias fechadas, privando 2.4 milhões de pessoas de comida, água, medicamentos e combustível.

O exército israelense retomou ataques a Gaza em 18 de março, com 4.402 vítimas e 13 mil feridos somados desde então, totalizando 54.700 mortos e 125 mil feridos, além de ao menos 11 mil desaparecidos sob os escombros.

A retomada dos ataques intensivos israelenses rescindiu unilateralmente um acordo de cessar-fogo e troca de prisioneiros assinado com o grupo palestino Hamas, que seguia em vigor desde janeiro deste ano.

O Estado israelense é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, sob denúncia sul-africana deferia em janeiro de 2024.

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