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De Al-Aqsa às ruínas de Gaza: Palestinos celebram o Eid em meio à ocupação

Palestinos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém ocupadas celebraram nesta sexta-feira (6) o feriado islâmico Eid al-Adha, apesar de bombardeios, ataques armados de colonos e soldados e violentas restrições israelenses.

6 de junho de 2025, às 11h53

Jerusalém

Dezenas de milhares de palestinos realizaram suas orações do Eid al-Adha na Mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém ocupada, na manhã desta sexta-feira, apesar de rigorosas restrições impostas por Israel e uma atmosfera lúgubre, pelo genocídio em curso na Faixa de Gaza.

Segundo estimativas locais, em torno de 80 mil palestinos se reuniram no terceiro local mais sagrado para o islamismo. Ao entrarem e saírem do santuário, entoaram as preces tradicionais do Takbirat.

Policiais militares de Israel se posicionaram em grande número dentro e nos arredores do complexo de Al-Aqsa, antes, durante e após as orações.

Muitos palestinos da Cisjordânia ocupada, no entanto, não conseguiram participar das preces em Jerusalém, devido às restrições impostas por Israel a seu direito e liberdade de movimento. Barrados nos portões, muitos outros oraram do lado de fora.

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O costumeiro espírito festivo do Eid, porém, foi uma ausência notável. Jerusalém e sua população palestina nativa, bem como fiéis de outras regiões, sentem ainda o peso da campanha de extermínio travada por Israel em Gaza.

Cisjordânia

Milhares na Cisjordânia marcaram o primeiro dia do Eid — até segunda-feira (9) — com orações nas mesquitas e praças, embora em tom igualmente lúgubre pelos ataques de Israel a campos de refugiados no norte do território ocupado.

Soldados israelenses, no campo de Jenin, impediram dezenas de famílias de visitarem o cemitério local, reportaram testemunhas à agência Anadolu.

Em Belém, no sul da Cisjordânia, milhares realizaram suas orações na Mesquita Omar Ibn Al-Khattab, perto da Igreja da Natividade, um símbolo da coexistência entre fés na cidade sagrada.

Em Hebron (Al-Khalil), palestinos se reuniram na célebre Mesquita de Abraão, também conhecida como Túmulo dos Patriarcas, sob duras restrições israelenses.

Munjid al-Jabari, diretor de recursos religiosos de Hebron, relatou em comunicado que as autoridades israelenses novamente se recusaram a abrir a totalidade da mesquita a fiéis muçulmanos, incluindo seu o leste.

“Esta é a sétima vez no ano que temos nosso o negado, incluindo sextas-feiras do Ramadã e em ambas as comemorações do Eid”, comentou al-Jabari. “Nos recusamos a aceitar um controle meramente parcial de nosso lugar sagrado”.

Na manhã de sexta, forças israelenses conduziram ainda uma série de novas incursões violentas na Cisjordânia. Em Qalqilya, soldados invadiram bairros, dispararam munição real e gás lacrimogêneo, prenderam dois e feriram um jovem na perna. 

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Desde a eclosão do genocídio em Gaza, em outubro de 2023, ao menos 973 palestinos foram mortos e outros sete mil feridos por tropas e colonos ilegais israelenses em toda a Cisjordânia, além de dez mil detidos arbitrariamente. 

Gaza

Palestinos na Faixa de Gaza sitiada realizaram suas preces do Eid sobre os destroços das mesquitas, destruídas por incontáveis ataques aéreos de Israel.

Em Khan Yunis, no sul do enclave, centenas se reuniram nas ruínas da Mesquita de Imã Muhammad al-Albani.

“Por dois anos seguidos, não podemos celebrar de verdade o Eid al-Adha por conta do cerco, dos bombardeios diários e do deslocamento”, comentou Hussein al-Ghalban, um dos fiéis presentes em Khan Yunis.

Jatos israelenses, todavia, não deram trégua, ao voarem baixo sob a cidade. Residentes e refugiados relataram artilharia pesada nas zonas leste, norte e central, além de novos disparos contra comunidades.

Na véspera do Eid, forças israelenses mataram 41 palestinos, dentre os quais mulheres, crianças e jornalistas, em diversos ataques em Gaza.

Israel insiste em ignorar apelos crescentes internacionais por um cessar-fogo, com seu genocídio em curso há 600 dias. Estima-se 54.700 palestinos mortos, além de 125 mil feridos e 11 mil desaparecidos sob os escombros.

Agências humanitárias internacionais têm ecoado sucessivos alertas de fome em Gaza, com mais de dois milhões de habitantes, sob sítio absoluto imposto por Israel.

Em novembro, o Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, emitiu mandados de prisão contra o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e lesa-humanidade cometidos em Gaza.

O Estado israelense é ainda réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), também em Haia, sob denúncia sul-africana deferida em janeiro de 2024.

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