clear

Criando novas perspectivas desde 2019

Palestine Skating Game reinventa a resistência sobre rodas

Ambientado na Cisjordânia ocupada, este videogame te leva a uma realidade vibrante e brutal. Cada encontro reflete uma experiência vivida, desde gangues de colonos israelenses a soldados e assédio em postos de controle.

5 de junho de 2025, às 11h25

Em sua casa na cidade de Nova York, um desenvolvedor conhecido apenas como Justin está silenciosamente construindo algo audacioso: um videogame de skate ambientado na Palestina ocupada.

À primeira vista, Palestine Skating Game soa como uma estranheza subcultural — parte homenagem à Jet Set Radio, parte rebelião artística. Mas, se você se aprofundar, ele se torna algo mais profundo: um ato cinético de desafio. Um protesto, não com marchas ou cânticos, mas com rail grinds, kickflips e batidas inspiradas na música eletrônica árabe.

As origens do jogo estão enraizadas em algo mais visceral do que a mecânica de jogo. Em 2018, Justin visitou a Palestina pela primeira vez. “Comecei em Jerusalém, depois fui para Belém, Hebron, Nablus, Ramallah”, lembra ele. “E aquilo simplesmente ficou comigo… a sensação de que as pessoas, mesmo sob ocupação, tinham essa sanidade fundamental. Mais do que eu sinto aqui nos Estados Unidos.” Não é a história que a maioria dos americanos ouve.

Viagens para Beirute, Caxemira e Cairo se seguiram. Mas a Palestina permaneceu, especialmente Hebron, onde ele conheceu um jovem soldado israelense-americano patrulhando mercados palestinos fechados. “Ele foi educado”, lembra Justin, “mas a dissonância em seu rosto — ele sabia que aquilo era errado. Não dissemos isso em voz alta. Não precisávamos.”

Resistência através do ritmo

O jogo em si é, em partes iguais, tributo e inovação. É fortemente inspirado em Jet Set Radio — um clássico cult em que os jogadores escapam de forças policiais distópicas em patins enquanto picham paredes. Mas Palestine Skating Game troca o neon de Tóquio pelo calcário de Belém e robôs policiais por soldados, tanques, drones e postos de controle militares da ocupação israelense. Cada encontro reflete uma experiência vivida, desde gangues de colonos israelenses a soldados e assédio em postos de controle. Os jogadores poderão patinar além do Muro de Separação ilegal e atingir tanques e drones com explosões de cores.

LEIA: Gaza no meu celular

“A música”, espera Justin, “será um peso pesado e a alma do jogo”. Ele já garantiu faixas do Hazy Noir, um grupo chillwave da Cisjordânia, e espera licenciar nomes conhecidos da cena musical eletrônica do Oriente Médio assim que eles arrecadarem um orçamento suficiente. “Se fizermos direito, as pessoas jogarão o jogo e pensarão: ‘Caramba, eu não sabia que música assim vinha do Oriente Médio'”.

Assim como a franquia Tony Hawk Pro Skater, que catapultou bandas punk para a consciência cultural, Justin espera que Palestine Skating Game leve o som da região mais longe do que muitos documentários conseguiram.

Mas construir um jogo do zero não é apenas romântico. É exaustivo. Justin cuida da modelagem e de grande parte da direção de arte sozinho. Ele não é programador — então, teve que reunir uma constelação de programadores de toda a região, incluindo um programador atualmente na Faixa de Gaza sitiada.

“É um trabalho árduo”, ite Justin. “Essas cidades — Belém, Hebron, Gaza — são tão ricas arquitetonicamente. Não pode parecer algo produzido em massa. Precisa parecer níveis realmente intrincados que realcem os detalhes de um lugar como Belém ou de um lugar como Gaza antes do genocídio.”

Justin nunca esteve em Gaza, a cidade mais difícil de alcançar. “Mas tenho amigos que moram lá”, explica. “A contribuição deles é fundamental.”

O jogo visualiza de forma complexa Belém ocupada e o Hotel Murado de Banksy. Hebron ocupada, onde lojas e mercados inteiros de propriedade de palestinos foram fechados por tempo indeterminado pelas forças de ocupação israelenses, forma outro cenário no jogo.

LEIA: “Provocando os sionistas”: atualização da missão de 7 de outubro da Fursan Al-Aqsa

O protótipo do jogo já permite que os jogadores percorram dois quilômetros do Muro da Separação, recriado em 3D com grafites retirados de fotos reais de duas décadas.

Patinando entre mundos

O jogo não pretende ser polêmico. Ele quer ser divertido. Visual e musicalmente emocionante. Legal, até. Na verdade, Justin quer que os jogadores — especialmente os jovens americanos — venham pela diversão. Mas, por trás das manobras radicais e dos grafites, o jogo quer dizer algo real. “Talvez assim eles saiam com uma nova imagem da região. Algo que nunca esperaram.”

O jogo ainda está em desenvolvimento, com uma visão para três episódios ambientados em Belém, Gaza e Hebron. Um episódio se ará em 2022, outro após 7 de outubro de 2023 e um terceiro no futuro, imaginando como seria uma paz justa ou realista na Palestina.

O primeiro “episódio” jogável está previsto — provisoriamente — para o final do ano. Dois níveis completos. Uma cidade. Uma trilha sonora. Um vislumbre de algo que o mundo praticamente ignorou.

Justin acredita no projeto. Porque para ele — e para a comunidade que se forma em torno do jogo — trata-se de recuperar o espaço narrativo e mostrar como é realmente a vida sob a ocupação israelense, por meio da brincadeira, não da piedade. Não há muitos jogos 3D que permitam que você esteja na Palestina, especialmente aqueles que não são jogos de guerra. “Queremos mudar isso”, diz Justin.

Em um mundo onde a ocupação israelense da Palestina é frequentemente reduzida a manchetes ou hashtags, Palestine Skating Game oferece algo radical: personificação. Ele permite que você ande de skate pelas ruas e encontre experiências vividas.

Não se trata de vencer. Trata-se de ser. Em movimento. Em resistência. Em ritmo.

LEIA: Nidal Nijm homenageia a luta do pai com um jogo eletrônico

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.