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América Latina aumenta pressão sobre Israel pelo genocídio em Gaza

4 de junho de 2025, às 12h27

Uma vigília de solidariedade na Avenida Paulista, em São Paulo, para comemorar o 75º aniversário da Nakba Palestina, em maio de 2025. [Ratib Al Safadi]

À medida que a guerra em Gaza continua a causar um impacto devastador sobre os civis palestinos, as vozes da América Latina se tornaram algumas das mais proeminentes e inabaláveis ​​na condenação do que muitos agora descrevem como um genocídio. De rupturas diplomáticas e condenações públicas a apelos por embargos econômicos e responsabilização legal, os países latino-americanos — liderados por governos progressistas e movidos por um forte senso de responsabilidade moral e histórica — assumiram posições ousadas contra as ações israelenses em Gaza e nos territórios palestinos ocupados.

O Brasil, sob o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, emergiu como um dos críticos mais veementes da campanha de Israel em Gaza. Lula, conhecido por seu apoio de longa data à autodeterminação palestina, acusou Israel de genocídio e comparou suas ações ao Holocausto — declarações que o levaram a ser declarado “persona non grata” pelo governo israelense.

Na esfera econômica, a pressão interna está crescendo. Em 25 de maio, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e a Federação Unificada dos Petroleiros (FUP) enviaram uma carta aberta ao presidente Lula, exigindo a suspensão imediata das exportações de petróleo bruto brasileiro para Israel. Os sindicatos argumentaram que o Brasil, tendo exportado aproximadamente 2,7 milhões de barris de petróleo bruto para Israel somente em 2024, estava indiretamente alimentando a máquina de guerra israelense e sendo cúmplice de crimes contra a humanidade.

Intensificando ainda mais a posição do Brasil, o governo condenou, “nos termos mais veementes”, o anúncio israelense, em 29 de maio, de 22 novos assentamentos na Cisjordânia. Citando um parecer consultivo de julho de 2024 da Corte Internacional de Justiça (CIJ), que considerou ilegal a presença contínua de Israel nos territórios ocupados, o Brasil reafirmou seu apoio a uma solução de dois Estados com base nas fronteiras de 1967, incluindo Jerusalém como capital palestina.

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Uma campanha separada da sociedade civil também ganhou força. Mais de 200 figuras públicas brasileiras — incluindo políticos, juristas, acadêmicos e artistas — am uma carta instando o governo a romper relações diplomáticas e comerciais com Israel, impor um embargo militar e energético bilateral e revogar o acordo de livre comércio existente. A carta pede que o Brasil “dê o exemplo” de cumprimento do direito internacional, especialmente ao assumir papéis de liderança em iniciativas legais da ONU em torno da criação do Estado Palestino.

O presidente chileno, Gabriel Boric, também tomou medidas decisivas para confrontar as políticas israelenses. Durante seu discurso anual ao Congresso Nacional, Boric classificou as ações de Israel em Gaza como “genocídio e limpeza étnica”. Ele reafirmou a obrigação moral do Chile de se solidarizar com as vítimas de tais atrocidades: “Não devemos esquecer ou deixar de sentir essa dor, porque ela é humana, assim como nós somos humanos”.

Apoiando suas palavras com políticas, Boric chamou de volta o embaixador do Chile em Israel, retirou os adidos militares do país e suspendeu a participação de Israel na próxima FIDAE, uma importante exposição de defesa e aeroespacial.

Esse crescente alinhamento entre Estado e sociedade civil é evidente nas ações de Nelson Hadad, um proeminente advogado e ex-embaixador, que apresentou uma petição no Palácio de La Moneda instando o governo chileno a romper todos os laços diplomáticos, comerciais e militares com Israel. A carta, apoiada por mais de mil cidadãos, argumentava que a condenação por si só é insuficiente. “Não é possível manter laços com um Estado que viola flagrantemente a Carta da ONU e o direito internacional humanitário”, afirmou Hadad, enfatizando o enorme número de civis mortos em Gaza — mais de 54.000 palestinos mortos, a maioria mulheres e crianças.

Na Colômbia, o presidente Gustavo Petro tem sido um dos líderes mais francos sobre o assunto. Ele tem repetidamente chamado as ações de Israel de “genocídio”, traçando paralelos entre Gaza e Auschwitz, uma ação que gerou debates internos e atenção internacional. A Colômbia chamou de volta seu embaixador em Israel e sinalizou uma reavaliação mais ampla de sua relação com o Estado.

A posição de Petro se alinha a um eixo mais amplo na política externa da Colômbia — que desafia lealdades tradicionais e visa posicionar o país como uma voz pela justiça e pelos direitos humanos em assuntos globais.

Embora o México tenha condenado a violência e exigido o humanitário, sua resposta tem sido mais contida. O governo não empregou termos como “genocídio” e evitou tomar medidas que pudessem comprometer seu delicado posicionamento diplomático entre o Sul Global e seus estreitos laços econômicos com os Estados Unidos.

O que une essas respostas é um compromisso histórico e ideológico mais profundo com o anticolonialismo, a soberania e os direitos humanos. A solidariedade da América Latina com a Palestina não é nova; está enraizada em histórias compartilhadas de opressão e resistência. Em toda a região, a opinião pública apoia fortemente a causa palestina, com mobilizações em massa e manifestações pró-palestinas ocorrendo de Buenos Aires a Bogotá.

Além disso, os governos da região estão cada vez mais alinhando suas políticas externas com o crescente corpo de leis internacionais — incluindo as decisões do TIJ — que exigem responsabilização de Israel.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.